31 julho 2006

Robby

Recentemente fui convidado por amigos a fazer parte de uma maratona cinéfia na qual os participantes votariam em um tema principal e, baseado nele, indicaríamos 3 filmes para assistir em seqüência, debatendo ao final sobre os aspectos observados.

Assim sendo, votei no tema "Ghost in the Shell", no qual tentaria assistir aos filmes que abordaram este delicado relacionamento homem x máquina. Filmes selecionados por mim: "Blade Runner", por motivos óbvios "Ghost in The Shell" e .... "O Planeta Proibido (Forbidden Planet)".

"Planeta Proibido" foi, até pouco tempo atrás, um ilustre desconhecido para mim. Embora sempre tivesse ouvido falar bem dele, nunca havia tido a oportunidade de assistir-lo. É um filme bem interessante, com efeitos especiais considerados bons para a época, feito dentro de um orçamento que hoje em dia seria considerado risível, mas que era alto pelos padrões de então. A história é bem feita, baseada em uma obra de Shakespeare, como descrito aqui e aqui. O que mais me chamou atenção no filme foi o robô "Robby", um criado obediente e servil à disposição de seu criador e amo, o Dr. Edward Morbius. Este robô serviu como molde de comportamento, conduta e habilidades para alguns dos robôs que foram criados mais a frente, como o B9 de "Perdidos no Espaço", o C3PO e R2D2 de "Guerra nas Estrelas" ou o Data de "Jornada nas Estrelas", entre outros. Era a síntese de um sonho acalentado pela humanidade a tempos, uma máquina com força imensa, incansável, com raciocínio extremamente rápido e aprimorado e totalmente obediente, seguindo padrões aprimorados de ética e moralidade.

Mas diferentemente dos "replicantes" de "Blade Runner" ou dos andróides de "Ghost in The Shell", falta ao Robby a essência do comportamento humano. Ele é apenas uma máquina, excepcionalmente bem feita, mas apenas uma máquina. Lembra fisicamente um ser humano, mas não precisaria ser semelhante para exercer a sua função a contento. Isaac Asimov, em sua série dos robôs, freqüentemente descreve robôs deste modo e provavelmente Robby saiu à semelhança do robô positrônico do grande escritor.

Nos replicantes de "Blade Runner", que são máquinas com comportamentos e memórias copiados e implantados artificialmente, o comportamento humano é quase que perfeitamente imitado, a ponto do próprio replicante as vezes desconhecer a sua situação; em "Ghost..." as máquinas recebem as memórias e pensamentos dos humanos em seus cérebros cibernéticos, sendo socialmente aceitos como humanos, mas será essa a essência do homem ? A principal discussão filosófica em "Ghost..." é exatamente esta, até que ponto a humanidade seria preservado no novo corpo androide ? Assistam o desenho e descubram...

A força e o fascínio de Robby é exatamente esse: ele não tenta imitar ou copiar o seu criador; sua voz claramente metálica, seu andar cambaleante, o raciocinar eletromecânico antes de responder a uma simples pergunta, mostram que ele não tenta ser perfeito, não tenta imitar, sendo autêntico em cada movimento e não deixando dúvidas de que é um robô, um exemplo de como o gênio criador da humanidade pode criar a máquina (quase) perfeita.

Robby é um dos aspectos que fizeram de "Planeta Proibido" um clássico da ficção científica, referência obrigatória para quem quiser entender tão fascinante gênero.